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Relatos de azotes

O Tío (en portugués)

Autor(a) desconocido(a)

Aninha sentou na cama, e com os braços envolveu os joelhos, ficando toda encolhida, como uma menininha emburrada. Um turbilhão de sentimentos passava em sua cabeça, e ela não saberia definir como estaria naquele momento: irritada, triste, confusa, agressiva ou meramente cansada.

Mas os minutos foram se passando, e os pensamentos assentando como a poeira após a rajada de vento. Lá fora, o silêncio, só um cachorro latindo. O sol entrava pela janela do quarto e ia bater de encontro à escrivaninha desarrumada, enquanto a cortina semi-cerrada deixava a cama na sombra. Onde estaria o tio, agora? Aninha sabia que não demoraria a vê-lo, e estava um pouco nervosa. Pôs-se a recordar. Recordou sua chegada na casa do tio, vinda do interior para fazer a faculdade na capital. Lembrou de seu deslumbramento inicial, dos novos amigos que fizera, os passeios, as descobertas, a rotina do estudo... tudo acontecendo muito rápido. Era muita tentação, e ao mesmo tempo, muita responsabilidade. Estudava feito uma doida para acompanhar o ritmo, mas também saia, voltava tarde, não tinha tempo nem para comer direito. Nem telefonava mais para a mãe, e negligenciava as antigas amizades. Só queria saber de novidade, novidade, novidade... o tio também andava meio chato. Aninha sempre gostou daquele tio, e sabia que ele era cuidadoso e severo. Lembrou os dias da juventude, quando ela e as primas faziam arte até cansar, e punham os velhos de cabelos em pé. De vez em quando a mãe e as tias pegavam o chinelo e saiam a distribuir chineladas na molecada. Mas como o tio era diferente. Ele nunca perdia a calma. Tinha aquele olhar que parecia desnudar a alma, e apontava direitinho o que ela havia feito de errado, porque era errado, e como ela deveria ter feito. E nada de berrar e distribuir chinelada, o castigo era aplicado com a solenidade que se reserva aos ritos importantes. Aninha lembra bem as primas, com cara de choro, a abaixar a calcinha e a deitar devagar no colo do tio, com o bumbum gorducho oferecido à justa punição. O tio, ar severo, erguia uma escova de cabelo de fundo chato, e serenamente punha-se a carimbar aquele traseiro, como um digno tabelião que carimba uma pilha de certidões, batendo pausadamente ora aqui, ora ali, fazendo as nádegas da menina chacoalhar como um pudim, e os dois pezinhos a subir e descer como os de um nadador que tentasse nadar no seco. Algumas vezes ela própria já havia experimentado aquele corretivo, e sabia como ele podia tirar-lhe o desejo de repetir a travessura por um bom tempo.

Mas o que Aninha não se conformava, era que o tio nunca perdia a calma. Fora assim naquela manhã. É certo que ela havia respondido mal ao tio, que só havia chamado a atenção para o seu comportamento, e alertado de que sua mãe estava preocupada. Será que o tio não podia simplesmente dizer-lhe uns desaforos e dar o incidente por encerrado? Mas não. O tio não estava ali para isso. Ele genuinamente se preocupava com as filhas e as sobrinhas, e dava a todas a devida orientação e as merecidas reprimendas. Sim, Aninha sabia por que o tio a havia mandado ir para o quarto. Não adiantava se enganar, e enquanto pensava, vinha-lhe à mente as cenas da infância, acompanhadas de uma sensação de formigamento nervoso nas nádegas. Passou a desejar que o tio voltasse logo e desse o suplício por encerrado. Mas não. O tio fazia tudo bem-feito. Ela a havia mandado para o quarto para pensar, e ela estava pensando. Pensou o quanto estava sendo ingrata com o tio que a hospedava em sua casa, e veio-lhe uma vontade de chorar. Suspirou. Agarrou um travesseiro, colocou-o no colo e enterrou seu rosto nele. Neste instante desejou mesmo a presença física do tio, para que tudo se esclarecesse e voltasse a ser como era antes.

A porta enfim se abriu. O tio entrou, severo e triste, e trazia uma coisa na mão.

- Então, filha, pensou?

Aninha não respondeu. Fez que sim, com a cabeça.

- Agora você vai descer essas calças e vir até aqui.
O objeto que o tio trazia era uma escova de cabelo, daquelas antigas, de fundo chato de madeira. Aninha sentiu o coração disparar. Mas por que? No fundo ela sabia que era isso que a aguardava. Mas trazido pelo instinto, o espírito da menina levada voltou a comanda-la.

- Ah, quê isso, tio, você vai me bater??

- Vou sim, filha, conforme você merece, e conforme sua mãe me autorizou.

- Ah, nãããooo... não faz isso! Eu já estou grande para apanhar!

- Não, minha filha, você ainda é uma menina, e não está se comportando como adulta. Suas primas têm a sua idade, e todas apanham ainda quando necessário. Quando você veio para cá, eu me comprometi com a sua mãe de cuidar de você, e vou cuidar!

Você, para mim, é como se fosse minha filha!

Aninha sentiu um nó na garganta e os lábios tremerem. Uma lágrima aflorou em cada olho. Ela sabia que o tio gostava dela, e tudo o que ele fazia era para o seu bem. Mas estava com medo.

- Ah, nããooo... por favor, titio... eu peço perdão... Ahnnn Ahnn Ahnn não quero… Ahnn vai doer… Ahnnn

- Minha filha, você sabe direitinho como tem que fazer. Abaixa a calça e vem aqui deitar no meu colo.
Choramingando baixinho, olhando para baixo, Aninha levou os dedos até o botão da calça baixa que deixava seu umbigo a mostra. Devagar, desceu-a até os joelhos. Deveria descer também a calcinha? Não perguntou ao tio, mas achou que seria um desrespeito manter a calcinha no lugar, e desceu-a também. Nem bem os pelos pubianos ficaram a mostra, veio-lhe uma sensação esquisita, era como aquele dia em que foi tomar uma injeção, só que dessa vez o tio é que seria o farmacêutico... com passos trêmulos, aproximou-se do tio, que a aguardava sentado bem reto na cadeira da escrivaninha. Debruçou-se em seu colo, sentindo o cheiro dele, cheiro de homem misturado com sabonete Phebo. Sentiu um arrepio nas nádegas nuas e soltou um gemido abafado, enquanto posicionava-se com o traseiro bem empinado, mãos e pés tocando o chão. No que sentiu o contato da mão forte do tio em suas costas, acariciando-a gentilmente, parou de soluçar e sentiu-se forte, como se aquele contato lhe transmitisse a coragem necessária para enfrentar a sova merecida. O tio fazia aquilo por ela, não podia decepciona-lo!
Aninha sentiu o deslocamento de ar quando o tio ergueu a escova, e aterrissou-a sobre o traseiro branco e avantajado que lhe era oferecido.

PAF!

Um choque pareceu percorrer o corpo de Aninha, da ponta dos pés aos dedos das mãos. Mais uma vez a mão do tio subiu e desceu. PAF! PAF! PAF! Aninha sentiu que cada golpe produzia uma sensação de formigamento que se espraiava em círculos concêntricos pelas nádegas e descia pelas coxas, como se tudo estivesse em fogo.
PAF! Ai! PAF! AiAi! PAF! Ai, tio! PAF! Pár PAF! Tá doen PAF! Ai por fav PAF! Não faço mais PAF! Nunca mais PAF! Tá bom, tio PAF! Ai, tá bom PAF! AAII! PAF! PAF! PAF!
Aninha não conseguia conter-se. Era inacreditável como aquela escova dura era capaz de doer, batendo nas nádegas nuas! Ela esperneava e se contorcia, as súplicas saíam aos borbotões, assim como as lágrimas. Mas sentia que, junto com o suor e as lágrimas, parecia que saia também todo o mau humor que a andava impregnando por semanas a fio. Ia embora toda a mágoa e toda a revolta. Ela amava o tio por estar fazendo aquilo. Nem reparou quando ele parou de bater, continuou chorando e prometendo se comportar bem dali por diante. O tio esperou que ela se acalmasse um pouco, depois ajudou-a a se levantar, enxugou-lhe as lágrimas e levou-a até o banheiro para que se lavasse.

- Agora você não faz mais, não é, filha?

- Não... Ahnn não... Desculpa... Olha tio, obrigada, eu estava merecendo! Ahnnn
Sentindo-se leve como uma pluma, Aninha cantarolava uma canção enquanto lavava o chão da cozinha, cumprindo o castigo que o tio lhe dera. Sentia o frio da mistura de água com detergente em seus pés descalços, e vestia apenas um saiote, sem calcinha, cobrindo o traseiro vermelho, cheio de marcas circulares e salpicado de gel e talco. O tio, muito circunspeto, lia o jornal.

- Tio...

- O que foi, meu bem?

- Você ainda está zangado comigo?

- Não, meu amor, eu nunca fico zangado com você. Eu te castigo para você se corrigir, e não porque eu esteja zangado. Limpa direitinho o chão, e quando terminar dá um telefonema para a sua mãe, que ela está com saudades.
Sorrindo, Aninha pôs-se a torcer no balde o pano de chão, ansiosa para terminar e ligar para a mãe contando a surra que o tio lhe dera.

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